OBESIDADE, INCLUSÃO E OS
PROBLEMAS DA ACESSIBILIDADE
Falar
de obesidade pode gerar controvérsias, principalmente se está associada a uma deficiência.
Pensar que uma pessoa obesa é uma pessoa deficiente produz nos indivíduos uma exclusão
da própria condição, acreditando que uma deficiência se relaciona com aspectos
de outa índole. Porém, se pensamos que uma doença produz uma deficiência e
limita à pessoa à realização de atividades que poderia fazer em outras
circunstâncias ou como quase todas as pessoas fazem, começamos a compreender
que a obesidade também requer cuidados e políticas de inclusão, assim como
também pensar na acessibilidade.
A
obesidade, em casos extremos, produz incapacidade social, como consequência do
isolamento que acontece na maioria dos casos, geralmente pela constante forma
como as outras pessoas ferem suas sensibilidades, fazem piadas ou riem dos seus
corpos e aparências. O preconceito se gera porque a sociedade em geral pensa
que a obesidade está associada ao descuido com a saúde ou à falta de cuidados
estéticos, de vontade, ou porque a pessoa é ociosa e despreocupada. Atualmente,
a obesidade infantil tem crescido significativamente e gera graves situações
nas escolas, como as críticas depreciativas, comentários cruéis e até bullying.
Nos
casos extremos, a obesidade também produz incapacidade física, acontecendo que muitas
pessoas, por causa do sobrepeso, não têm mobilidade nem na sua própria casa,
sendo impedidas de tomar banho ou realizar a troca de suas roupas. Pensando em
serviços básicos e ações quotidianas, os espaços não estão pensados para
pessoas obesas, sendo um grave problema subir uma escada, sentar em um cinema,
passar em portas giratórias nos bancos e comércios, aviões, taxis, entre uma
incontável quantidade de situações. É compreensível que sob esta realidade o
isolamento pareça a melhor resposta para essas pessoas, não sendo um problema visível
para o resto da sociedade.
O
culto da beleza faz com que cada dia mais pessoas valorizem o fato de serem
magras como uma condição para serem belas e aceitas, produzindo um sentimento
de inconformidade com seu próprio corpo. A vida moderna favorece o
sedentarismo, sem termos tempo para atividades físicas, além da má qualidade da
alimentação, com produtos altos em calorias e com pouco valor nutricional,
agravando os problemas em crianças e adultos. Na adolescência essa realidade
resulta em que muitos jovens escolham as intervenções cirúrgicas invasoras para
resolverem seus problemas, muitas das quais são somente parciais. Contudo, o
problema não se discute na sociedade como deveria, levando às pessoas obesas a ações
radicais para subverter seus problemas, como é o caso de automedicação.
É
por esses e outros motivos graves que a obesidade deve ser tratada como uma deficiência
e um problema social que necessita gerar transformações nas políticas de
acessibilidade e inclusão, com a finalidade de não isolar os indivíduos,
permitindo-lhes a circulação e serviços básicos, independente da sua situação
específica.
O
sofrimento de uma pessoa obesa não está relacionado somente à falta de
mobilidade ou aos tratamentos que surgem por motivos de doenças que a obesidade
gera, encontrando-se principalmente no preconceito social e histórico que temos,
porque os obesos sempre foram vítimas de agressões, piadas e violência física.
Por esse motivo, como fazer com que a rejeição social se torne inclusão e acessibilidade?
Acredito que a acessibilidade poderia ser o primeiro passo para a inclusão, já
que institucionaliza as práticas sociais a favor da pessoa com dificuldades e
permite que se identifique uma solução ao problema, antes que um problema que
gere o preconceito. Por exemplo, se uma pessoa obesa intenta entrar por uma
porta que não tem o tamanho adequado, poderia gerar uma situação desconfortável
para ela e, provavelmente, geraria piadas e comentários. Porém, se uma porta
está visivelmente adequada e sinalizada para o uso de pessoas obesas e com uma
referência adequada à situação, outra poderia ser a reação das pessoas, como
quando acontece com cegos ou cadeirantes.
A
obesidade, a diferença de outras deficiências, existe em um processo constante
que interfere com a qualidade de vida da pessoa, dependendo das circunstâncias atuais
ou futuras e que, de forma equivocada, se confunde com uma questão de maus hábitos.
Devemos lembrar que: “a inclusão não é um
processo isolado, e sim parte de uma cultura que considera todos os indivíduos
diferentes entre si, e que cada um tem a sua limitação. Assim, na construção de
um mundo sem segregações, podemos utilizar princípios que permitam o acesso
universal aos espaços”.
Os espaços adaptados de maneira acessível, baseados nos princípios
do desenho universal: igualitário, adaptável, obvio, conhecido, seguro, sem
esforço e abrangente, geram a possibilidade de inclusão de todas as pessoas que
possuem dificuldades específicas, sem padrões nem acesso limitados sobre a base
de uma incapacidade premeditada como pensamos geralmente.
Com respeito à acessibilidade
urbana, assunto que deve ser pensado por todos nós, como cidadãos e como
educadores, conforme os materiais proporcionados nas nossas aulas, percebemos que
as visitas a museus, parques e teatros, também devem ser pensadas de acordo com
os critérios universais, atividades que vêm crescendo com propostas adaptadas
segundo o modelo do Desenho Universal.
Assistindo o vídeo que mostra a acessibilidade do
Museu da Inconfidência em Ouro Preto, é impossível não pensar no tamanho da
cadeira de rodas, ferramenta indispensável para a acessibilidade de pessoas nesses
espaços, porém, pensadas dentro do padrão de homens e mulheres magros.
Para finalizar minha intervenção, considero importante
que a acessibilidade se construa de forma social e com a participação de todos
os cidadãos envolvidos direta ou indiretamente nos espaços e situações
particulares, constituindo-se dessa forma, políticas sociais de intervenção
cidadã que experimentem com formas não padronizadas, abrindo a possibilidade de
acesso universal e com critérios universais reais.